segunda-feira, junho 12, 2006

o amor é fodido#1

Haviam sido intimos, e por intimidade entenda-se
ela chorando copiosamente no carro dele numa madrugada
de vidros embaçados e verdades frias escancaradas,
uma mão no seio dela, só uma, um só.

Sofreram-se durante anos.
As desesperanças do winterverno.
Ela tinha medo de encontrá-lo
numa calçada qualquer às três da tarde.
Prudente, ele saía de casa sem os óculos,
que era pra nunca mais reconhecê-la.
E afinal perderam-se com o tempo,
sumiram na geografia de mais uma perda,
mais um esquecimento.

Puramente se acostumaram.

O encontro foi ali mesmo no bairro, quando ele abria a porta do analista e ela esperava na salinha, comendo balas sete bello da bomboniere. No cubículo decorado com quadros de Carl Jung e cortinas liláses, não havia remédio senão olharem-se redondamente, em cheio. Dois segundos e meio de suspensão no tempo foram o bastante, a eternidade.
A boa educação permitiu que não se cumprimentassem,
e assim o fizeram.

As verdades eles deixaram ali, esparramadas no divã-blue-velvet, secretas e vivas como dentes guardados.

4 Comments:

Blogger Vizionario said...

O título é indgno do conto.

Gostei de só uma mão no seio. Só uma. Neste caso, melhor que duas.

7:29 PM  
Blogger meu paredro said...

Seria mais fácil se.

3:27 AM  
Blogger Vizionario said...

puts, estou pegando o caminho contrário. estou indo pra província.

7:56 AM  
Anonymous Anônimo said...

Sofreram-se durante anos...Especialmente verdade. Bjs, Ju

4:14 AM  

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