sexta-feira, junho 02, 2006

as irmãs


Ruth dizia que não era assim.
Não precisava ser assim.
- Eu não tenho planos, eu vivo plenamente.
Mas Dulce dizia as coisas do avesso,
eram tão diferentes.
Quando brigavam, se refugiavam
na casa das mil portas.
Uma parede fina separava os soluços.
O cão triste vinha lamber os olhos salgados de uma, depois da outra,
reconhecendo na salinidade o tamanho
da dor. Depois esqueciam,
perdoavam-se por puro hábito.
A mágoa murchava nos dias seguintes, feito
balão de aniversário.
Então, na casa das mil portas o vento entrava assobiando, passeando pelos caminhos e corredores e passagens abertas muito amplas.
Dulce e Ruth tomavam o mate e costuravam,
lépidas, tagarelas, açucaradas.
Até que Dulce. E um novo caos se instalava.
- Eu não tenho planos, dizia. Eu vivo de vento
em vento. É que, Ruth, eu vivo planamente.

(fotografia: sergio larrain)

2 Comments:

Blogger elisandro said...

Traduz a torrente de emoções em palavras:
-Assim tão facil, como que assobiando mas é doloroso.
Ele diz algo:
-Te admiro plenamente.
-Como?
Encontro de olhares refletidos, disse:
-Te escutando e lendo.
-Quando?
Ele olhando a foto:
-Quando sinto isso.
Puxa sua mão até o peito:
-Sente?
-Sim.
-Então escreve.

9:16 AM  
Blogger Vizionario said...

Gostei muito do "para romper mi mapa". Inveja saudável. Ainda há esperança.

3:23 AM  

Postar um comentário

<< Home