(a perfect day to lock yourself inside)
(E quando sentia qualquer desespero, eu olhava pra cima e via um céu pálido sobre o topo dos prédios. Devo ter passado a vida toda em Curitiba olhando o mesmo céu pálido e os mesmos topos dos prédios oprimindo nossas cabeças, e eu sei que você também, do contrário não estaríamos aqui agora./Receio não saber mais escrever em terceira pessoa. Mas não se afobe não, que isso é só literatura - ouro ou merda./Não posso dormir de noite, as imagens da tevê agora estão amalgamadas em meu cérebro. Então amanhece e o rumor dos pesadelos vai me acompanhando no ônibus./Andar de ônibus é tão triste. Hoje, vi um homem com zero pernas e uma velha se arrastando pelos corredores do biarticulado, resmungando: peloamordedeus, alguém me ajude./Em Curitiba, só os fantasmas andam de ônibus. Devo ter morrido há muito tempo. Mas talvez não, porque ainda me sobram os olhos para ver anúncios de propaganda espalhados pela ventania./É como se a cidade inteira tivesse sido tomada pela publicidade, como se tudo fosse marcas de cerveja e desodorante./E quando eu tenho a felicidade e a bênção de encontrar um outdoor esquecido em branco, por descuido ou acaso, eu sinto o mesmo frescor e a brancura de olhar o céu pálido e o topo dos prédios em Curitiba./E olho pra cima, e solto um grito abafado, engolindo seco toda a neblina.)
4 Comments:
você é sempre densa.lírica e sempre me faz sentir sua falta. enormemente.
beijos e até semana que vem!
não se angustie antes do casamento. O céu de Lisboa, digo, Curitiba, reflete a cidade. Pálida, cálida, distante. Ou seja, o melhor da província. Na terra do pinhão, comer neblina é PF.
O Cazuza disse que comer a bruma é a melhor coisa do mundo.
Lembrei disso hoje, no ônibus. Um fantasma. O Mário Quintana disse que os fantasmas não fumam porque correriam o risco de fumar-se a si mesmos. Será que vale o mesmo pra bruma?
Denso. Tão denso quanto a neblina de curita... cidade que não conheço... mas do qual os exilados já me contaram os horrores.
Sorte e saúde pra todos!
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