segunda-feira, setembro 18, 2006

Uma carta, uma brasa através (ou ainda, um desabafo pré-nupcial)


Querido Pedro,

Che! Mi gran pelotudo! Cabrón querido! Mi hermanito muy precioso!
Você devia ter estado lá, porque a coisa foi mesmo imperdível. Tu, cabrón, que tanto se interessa pelas experiências antropológicas e que viveu boa parte delas do meu lado, haciendo dedo en la ruta, tomando pórre de chicha boliviana, fazendo piquete contra o presidente do Ecuador ou ainda escalando até machu picchu antes do sol nascer. Tu, boludo, que caminhava comigo por toda Buenos Aires e depois me apontava as paisagens desésticas da janela de um caminhão chileno. Que depois, feito vingança, partiu pro México quando eu voltei pra casa e me deixou recordações fotográficas salgadas de lágrima.

Você devia ter estado lá, amigo.
Disculpame, che. Perdoname por não ter te convidado. Me disseram que o programa era restrito, que só as mais enlouquecidas fêmeas poderiam entrar. Pois lá estava eu, fechada na sala, no meio de trinta mulheres histéricas que me dopavam com cerveja quente e riam da minha fragilidade de noiva. Isso. De noiva. Então, de olhos vendados, eu tentava adivinhar presentes encaixotados, distinguir uma escumadeira de uma colher de pau, arriscar entre um jogo de tap-wear e panelas antiaderentes pagando os mais patéticos castigos quando o palpite dava errado.

Perdoname, che. Eu sei que é injusto não compartilhar esses momentos contigo, e também sei que não te agrada saber que nossas mochilagens estarão suspensas por ora. A viagem deve sempre continuar dentro da gente, mesmo que de maneiras distintas. (A liberdade tem muitas caras, você sabe, e eu encontrei uma muito bonita.)

Minha amiga Carla foi quem lançou o apelo: “párem de crescer, parem de casar”. Eu contestei o pedido e disse que eu quero, e que casar e navegar é preciso.

Pero sin perder la ternura jamás.

Un abrazo caluroso,
tu hermana de hoy y siempre

3 Comments:

Blogger insone said...

não fui, mas quero muito dar um presente bem escolhido pra casa nova.
bjo

9:18 AM  
Anonymous Anônimo said...

che louca,

nesse momento estou paralizado e as teclas do computador ásperas como pedras. Então vou apenas sair na chuva pra ver se recomponho alguns pedaços. A verdade é que ainda não compreendi por que os pontos de fuga escapuliram para alguma outra perspectiva. Não deveria, mas é claro que há um gosto de despedida nisso tudo.

com todo o carinho e os abraços partidos de sempre,

aquele

8:04 PM  
Anonymous Anônimo said...

Maricotinha, a mais causadora de lágrimas nos digitadores do lado de cá.

12:51 AM  

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