às oito
Uma urgência em dizer, dizer não se sabe o quê,
como se o gesto fosse a palavra
(diálogo eloqüente de surdos-mudos: a palavra tem o peso do gesto).
Uma urgência em sentir o calor,
como se amanhecesse amarelo.
Essa urgência amarela de dizer as coisas,
qualquer coisa,
espumando a pasta de dente cremosa na pia.
Há todo um sol querendo entrar
pela janela do banheiro.
Uma urgência de calor, o remorso de azulejos frios,
o mofo das paredes úmidas contornando o inverno.
Uma urgência em dizer,
GRITAR,
cuspir o longo bochecho na pia
misturado a pedaços de sonho e hálito e essas saudades miúdas oito horas da manhã.
Imagem: Noturno, de Fabio Dudas.
4 Comments:
Na manhã, nesse estado pós sono, os pensamentos estão desacelerando, procurando reestabelecer a lentidão da vida perante o sub-consciente. As urgências vão mudando de contornos. Para mim também funciona assim, até que lavo o rosto, ponho minhas lentes e puxo o freio da mente.
Nosso segredo geográfico está bem guardado... só queria o país, me deste o GPS de um lugar encantador.
Um abraço e te vejo no Contos & Encontros.
Sílvio
Boa!
adoro passear por aqui, minha petite mari marie! me faz muito bem ler e reler suas palavras e sentimentos. beijos pra ti
Felicidades portáteis à parte, eu realmente gosto dessa poesia das coisas cotidianas. Mas não é tão fácil transformar isso em bons textos...
Você geralmente consegue.
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