terça-feira, julho 15, 2008

As botas da minha amiga


Para a Ana, ao som de Dave Matheus Band

De hoje em diante, vou andar diferente. Pisar mais macio, muito leve, mais florido. Quando a gente era pequena, alguém nos leu a história maravilhosa do gato de botas. Deve ter sido a minha avó, que também contava como ninguém a lenda do pequeno polegar e sua bota de sete léguas. Pois a minha bota também tem superpoderes, e eles são muito mais incríveis e fascinantes. Falo dos poderes de compartilhar o par de botas que um dia coube nos pés da minha melhor amiga. Isso foi há mais de dez anos, quando caminhávamos juntas, invariavelmente na mesma direção. Minha amiga comprou umas botas floridas lindíssimas em uma feira de artigos exclusivos. Não tinha o meu número, mas precisamos ser sempre iguais, então eu comprei um cinto de mesma estampa. Durante anos exibimos por aí nossas flores exclusivas. Até que crescemos. Roupas e acessórios foram se perdendo no buraco negro dos guarda-roupas. Ficando pra trás; menores, estreitos, apertados. Como se o tempo tivesse passado como quem dá um passo de sete léguas.

Hoje sou eu quem piso macio. Dez anos depois das nossas andanças a quatro pernas por Curitiba, minha amiga decidiu que era hora de me emprestar sua bota florida. Talvez porque ela já não cabe mais no seu passo. Ou talvez porque minha amiga queira estar sempre perto de mim, mesmo quando existirem sete léguas entre nós. É por isso que hoje eu tirei o pó das botas guardadas durante anos e as levarei para passear pelas ruas de sempre. Com a diferença que a cidade cresceu, e também os nossos pés e a nossa amizade. Mas as botas floridas continuam iguais, mais macias do que nunca.