sexta-feira, março 07, 2008

partidas (e chegadas)


Bárbara Lia, Pedro Carrano e Mari Sanchez marcam um encontro sob a luz amarela de Curitiba à noite, no Largo da Ordem, onde se conheceram dez anos atrás. Os papéis agora são invertidos e a poeta se veste de jornalista, propõe entrevistar os viajantes. É quinta-feira de um mês ímpar de ano bissexto. Noite ideal para ouvir nossos relatos callejeros, sentir o mesmo vento de outros tempos: viagens de ventania.

O encontro é também uma quase-despedida. Antes de partir à Chiapas, mais uma vez, Carrano decide que serei a herdeira fiel de sua biblioteca, seus escritos encadernados e a cobiçada mesa de xadrez. Eli Dalcin une-se a nós e pede uma cerveja. A magreza de Pedro e sua barba espessa indicam que a estrada se aproxima a cada dia. E o tempo passará mais lento nas montanhas chiapanecas que nos bares do Largo da Ordem, entre um e outro trago. A poeta Lia fará livros; Mari e Eli farão filhos; Pedro fará um pouco de cada vez.

Daqui a vinte e cinco anos, ninguém poderá dizer que estaremos vivos. Bárbara morrerá de amor; Pedro, na guerrilha; Mari e Eli morrerão de tédio em Curitiba ("a vida será, portanto, um depósito da morte"). Nossos filhos, orientados por bilhetes e relatos em cadernetas, marcarão um encontro no apartamento 204. As histórias irão se cruzar e as memórias flutuarão pela sala, entre o movimento de um bispo e a captura de um cavalo.

Na mesa de xadrez que Mariana herdou de Pedro.